sábado, 30 de agosto de 2008

Estereótipo




Segundo o dicionário: 1. Fôrma obtida pelo processo estereotípico. Óóóó, grande ajuda! Mas o que vem a ser um processo estereotípico?Procurei no dicionário, e novamente encontrei aquele significado que para entendê-lo é preciso procurá-lo. Tá, mas todo mundo sabe o que é um estereótipo, aquele lance repetido, clichê, de sempre, etc. Ultimamente eu tenho notado isso, principalmente nos meus desenhos, a vontade de me desfazer desses repetecos simples, que viram até hábitos. Todo mundo passa, ou já passou, por alguma situação em que o estereótipo entra em cena,seja no modo de observar as coisas, criticar, ou representá-las.

Esse lance da mesmice é notável no ensino da arte (infelizmente), principalmente no ensino fundamental e, às vezes, no médio. É aquela coisa, para representar uma pessoa feliz, a boca é representada através de uma linha curva, que parece a letra ‘’U’’. Para representar ela triste basta virar essa linha de cabeça para baixo. Barbada, simples, fofinho, bonitinho. O aluno fica satisfeito e o professor não tem o trabalho de dar explicações nem ensinar o diabo a desenhar, afinal de contas, essa boquinha é tão estereotipada mesmo, a criança nem questiona (esse exemplo da boquinha bonitinha é apenas um dos milhares que existem). A maioria das pessoas está tão habituada a olhar um desenho rapidamente e já sentir a necessidade de entendê-lo que são indiferentes os detalhes, pois ela achando bonitinha já esta de bom tamanho. É este o ponto que eu queria chegar!

Ocorreu um lance comigo esta semana que confirma a história de que as pessoas continuam tendo a mente fechada. Há mais ou menos quatro meses eu sou oficineiro do projeto Escola Aberta, no qual o governo libera uma verba a certas escolas, para estas destinarem às oficinas, que são dadas nos finais de semana, assim a criança cria um vinculo maior com a escola (grande merda!). Após muitas aulas teóricas, dois jovens e eu fomos para a parte prática, afinal graffiti é rua!Para minha felicidade a diretora liberou o muro da entrada da escola para a pintura. Planejei, junto com os jovens, desenhos leves, mas dentro do meu estilo.






Gostei muito do resultado, muita gente gostou também. Os personagens centrais são de uma menina de 10 anos, que pela primeira vez usou sprays de qualidade para fazer um graffiti. Claro, eu dei uma ajudinha, e não ‘meti o bedelho’ no seu desenho. Afinal recomendo que para as primeiras pinturas, seja feito algo bem fácil e simples, tal como a boquinha que tanto já critiquei.

No outro sábado, posterior ao da finalização da pintura, chega a mim uma notícia: mães de alunos estavam relacionando o lápis à uma figura obscena (para ser mais direto,comparado à uma pênis!). Na hora cheguei a pensar que era possível, já que fiz um lápis meio curvo, com sua borracha rosada. Porém ao chegar na frente do muro e analisar atenciosamente, de maneira alguma consegui relacionar aquilo a outra coisa,muito menos a um pênis. Enfim, lá foi o Ricardo intervir na borracha, pintando de bege (infelizmente não tenho a foto). A situação se repetiu. A diretora, a pedido das mães, não estava satisfeita. O lápis continuava a fazer brotar nas mamães dos aluninhos um certo tesão (uhauauahauhauhauhauha). Ela queria que eu refizesse todo lápis, de forma mais quadrada. Isso realmente foi a gota!Porra, muita gente comentou comigo, que essa atitude da diretora não era necessária, pois da onde que aquilo era um pênis?



Comecei a refletir. Em todos esses anos envolvido com pintura, principalmente graffiti, o pessoal abusa da boa vontade do artista (claro, com exceções, ainda bem). Alguns, só porque pensam que estão pagando,querem que tu desenhes fugindo dos teus limites e estilo, e às vezes além do combinado. Coisas do tipo ‘’bah, aproveita e pinta ali do ladinho’’ ou ‘’sobrou tinta ainda?Ah, então põe um texto aí’’. A diretora, muito da esperta, aproveitou-se da minha necessidade de uma superfície para pintar e me ofereceu o muro do colégio. Já abusando, queria que eu modificasse o desenho, por causa de meia dúzia de reclamões. Acho isso uma falta de respeito, mas enfim... Pensei que ia parar por aí, mas, não contente com o favor que a fiz de mudar a cor da merda da borracha, ela sugere a ‘’genial’’ idéia de a professora de Artes pintar por cima do graffiti, junto com seus aluninhos. Detalhe: ela nem me comunicou sobre isso, eu fiquei sabendo através de outras pessoas. Pensei que seria mais além, mas hoje ao chegar à escola, me deparo com metade do muro pintado de verde, patrolando tudo que havia nele! Um verde escuro, que, a meu ver, é um tanto quanto agressivo para uma escola de ensino fundamental.



Envolve muitos fatores. Além da mente poluída e fechada das pessoas, esse ano, creio eu, vai ser eleição de diretor em algumas escolas, e ,lógico,ela não poderia negar o pedido das mães que deixam seu filhos lá para terem uma boa educação.

É meio ‘’querido diário’’ esse post, mas é pra quem não ta envolvido com graffiti entender o que passamos. Não, não é dar de coitadinho, tanto é que depois de quatro anos pintando e tomando no cu eu continuo na função! E vai além do graffiti, porque mesmo artistas plásticos que pintam apenas telas, quadros, enfim, não expõe na rua, sofrem da mesma maneira ao entrar em contato com pessoas ignorantes.

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