No final do ano de 2013 novamente ele me convidou. Cada vez que íamos à casa dele, ele tocava no assunto, então percebi que desta vez ia rolar. Os meses passaram, e era janeiro, um mês antes do carnaval, e nada. Fiquei sabendo que o Porto Seco (sambódromo de Porto Alegre) havia sido interditado, por não estar com equipamentos de segurança em condições de uso. Em fevereiro o complexo cultural do Porto Seco foi liberado, e então demos início ao trabalho para o carnaval deste ano.
A missão era fazer o que fosse possível dentro do projeto apresentado pelo carnavalesco à escola, em um período de aproximadamente 20 dias. A escola, Acadêmicos da Orgia, tinha como tema o artista Medina, já falecido, que seria homenageado pela escola. Esta escola, comparada as famosas, é pequena, e está no grupo de Acesso do carnaval da cidade, que seria como a 3ª divisão do futebol. Pedrinho, o tio carnavalesco, projetou dois carros alegóricos, um representando a rua Borborema, que fica no bairro Morro da Cruz, e o outro representando a música de Medina, com uma escultura do artista homenageado.
Nossa equipe era formada pelo Pedrinho (carnavalesco/artista plástico), Tibé (escultor), Paulinho (auxiliar) e eu (artista plástico auxiliar). Ajudei na confecção das letras e pinturas, mas meu foco principal foi a criação das casinhas, que fariam parte do carro do Morro. Utilizamos materiais reciclados, como, por exemplo, papelões e chapas de isopor usados.
No carnaval, assim como em diversas áreas, rola uma hierarquia. Ou seja, a escola do grupo especial recebe mais verba e tem mais regalias do que uma escola do acesso. Sendo assim, além do pouco tempo para concluir nosso trabalho, tínhamos que dividir o barracão com outras duas escolas, além da bagunça que encontramos nos primeiros dias que fomos ao barracão. Na semana do desfile os componentes da escola nos ajudaram, o que foi de grande importância. Do contrário não conseguiríamos entregar os dois carros. Conforme o dia do desfile ia se aproximando a responsabilidade era maior, e a correria também, tanto que no dia do desfile trabalhamos 11 horas ininterruptas. Percebi que não havia comida nada além do almoço só após entregar os carros, tamanha a vontade de concluir o trabalho. Mesmo assim não conseguimos finalizar 100% das alegorias, faltando, por exemplo, a igreja no carro do morro, que era uma grande referência, já que o artista Medina começou sua carreira cantando na igreja do bairro. Mas mesmo com o pouco tempo e os contratempos enfrentados entregamos os dois carros, conforme o projeto.
Infelizmente tirei poucas fotos, e no dia do desfile as pilhas ficaram fracas. Acabei tirando foto apenas do primeiro carro, que representa a rua Borborema, com o Zé Carioca, símbolo da Acadêmicos da Orgia, na frente do carro. A escola acabou ficando em 4º lugar, por causa do quesito fantasia entre outros detalhes que fizeram com que a escola perdesse pontos. Porém o quesito alegoria recebeu notas 10, 10 e 9.9 , o que significa que fizemos bem nosso trabalho.
Trabalhar no carnaval de Porto Alegre é correria! Tem que enfrentar o descaso do órgãos responsáveis, os prazos curtos, a má estrutura, entre outros fatores. Mas foi uma experiência incrível, que fez com que agregasse mais conhecimento e cultura à minha bagagem artística.
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Um comentário:
Parabéns pelo trabalho! Cenografia não é fácil, mas com certeza, agrega um conhecimento absurdo! Abraço!
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